terça-feira, 13 de outubro de 2009

O Iditoa

A família Iditoa era famosa pela grande casta de filósofos e detetizadores que produzia. O primeiro Iditoa chamava-se Herbert e é conhecido como "O Pioneiro" quando a partir de um erro de cartório seu sobrenome ganhara esta grafia. O interessante é que sua mãe, morta chamava-se Claudinne Fontainne e seu pai chamava-se Herbie. Portanto, ninguém sabe como ele se chamaria se o escriturário do cartório não fosse uma mula analfabeta.
Mas esta estória não quer contar sobre as peripécias do Pioneiro, mas sim do seu bisneto, Julian. Julian era o caçula de uma prole de 13 filhos conhecidos pela mãe. Seu pai era alquimista nas horas vagas, o que o tornava um alquimista de tempo integral, já que era desempregado de nascença. Sua mãe era uma morsa.
Todos os 15 e mais o cachorro da família, Cão de Merda, viviam em um casebre muito humilde construído pelo patriarca no meio de uma linha de trem. Papai passava o dia inteiro fora de casa dormindo. À noite, voltava para casa e dormia ainda mais. Mamãe era muito gorda e vivia comendo folhas o tempo todo. Os 12 irmãos nunca eram vistos por Julian, mas papai assegurava que eles existiam.
Julian estava sempre com o Cão de Merda e não conseguia entender como é que ele poderia ser filho de sua mãe, já que tinham personalidades tão diferentes. Enquanto ela só queria comer e nunca mencionava palavra alguma, ele passava fome porque não gostava de arbustos e era tão curioso e tão falante que às vezes acordava seu pai, que berrava para ele calar a boca e parar de irritar a sua mãe.
Mas numa tarde dessas em que Julian estava muito inquieto, seu pai o chamou lá da sombra onde dormia e contou-lhe a verdade:
- Meu filho, você já está grande e já deve saber a verdade: eu não sou seu pai nem ela é sua mãe. Tome seu rumo. Você é um Iditoa.
Embora tenha sido estranho ouvir aquilo, Julian já sabia.
- Eu sei, papai. Eu sei que sou um idiota.
- Não, idiota! Iditoa!
- Então! Idiota.
- Não! Que imbecil...
- Mas não era idiota?
- Olha, menino. Eu não sou seu pai. Ela não é sua mãe. Você é um Iditoa. Veja isso.
E deu um papel todo amassado para o menino, que olhou e viu uns vários desenhozinhos pretos bem pequenininhos em fila. Alguns completavam a fila, outros não. Reparou que existiam uns que eram iguais entre si e uns bem pequeninos no fim de cada fileira. Mas não em todas as fileiras.
- É muito bonito papai. Mas pra que que serve?
- Não sou seu pai! Eu não sei pra que que isso serve. Você não sabe ler?
- Não. O que é isso?
- Nem eu. Mas também acho esses desenhozinhos bonitos. Quem sabe ler entende os desenhos.
- Uau!
- Pois é. Agora vai embora. Não me procure. Pega este papel de desenhos bonitos e procure por alguém chamado Iditoa. Ele é seu pai.
- Ah, é?
- É. Agora toma teu rumo.
- Tá. Obrigado, pai.
- Vai tomar no...
E assim, Julian chamou o seu companheiro, o Cão de Merda, e partiu para encontrar seu verdadeiro pai, o Iditoa, munido apenas de um papel com coisinhas desenhadas. Sua primeira missão era entender o que significavam os desenhozinhos bonitos e para isso, precisava de alguém que soubesse ler, o que quer que isso significava. Tinha apenas 8 anos e o mundo pela frente.

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